sexta-feira, 15 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
são quase seis da manhã. nunca tive especial prazer em deitar-me tarde. e cada vez tenho menos interesse nisso. hoje estive num concerto em que me diverti imenso e me desgastei na mesma proporção. estou cansado mas fiquei até a casa fechar. simplesmente porque encontrei gente com quem tive o enorme prazer de conversar. habitualmente não falo muito. as pessoas acham-me aborrecido por isso mesmo. o que as pessoas não percebem é que aborrecidas são as conversas que me propõem. não nutro a menor satisfação pela maior parte das conversas que me acontecem. então o silêncio é uma forma brilhante de sintonia. é tão raro, mas tão raro dar de caras com gente que aprova uma paixão que eu tenho pelas conversas substanciais. quando acontece não resisto. mesmo quando à volta já só resta um chão imundo com o que resta de uma noite bem passada.
sexta-feira, 8 de abril de 2011
um dia destes o diafragma vai libertar-se e a tua língua vai querer envernizar-me o abdómen. as loucuras sempre curaram as doenças normais. os cobertores já devem ser demasiados não escutes as conjugações desgastadas. ouve a perplexidade desconexa e a exuberância dos crimes desviantes. encaixa-te no tempo e dá-lhe corda.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
segunda-feira, 4 de abril de 2011
de repente há pessoas que se lembram. que aparecem. aquelas já arrumadas numa prateleira de memórias. reaparecem e renovam uma importância que afinal têm. as vedetas não poupam nas felicitações. agradeço mas não acredito. desconfio. e depois há aquele no canto a bater palmas que veio porque quis e vai-se embora antes de ser notado. por definição a surpresa vem sempre de onde menos se espera. e eu gosto assim.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
se bem que tudo o que importa é um corpo a ferver. e em todo o caso eu nunca gostei de abrir as cartas do banco. a ver se pega o léxico desenvolto e abundante no contágio por comportamentos de risco. bastava a ebulição. o resto é letra minúscula decerto. em paradeiro incerto chama-se pelos dias desavindos que o certo é não vir ninguém ao canto da sereia. servia-se uma alucinação dose dupla a dois pedia-se por medida e nunca se encaixava como devia ser. era um fogo posto a arder nas cinzas de um incêndio recesso do dia anterior.
quarta-feira, 30 de março de 2011
segunda-feira, 28 de março de 2011
quinta-feira, 24 de março de 2011
quarta-feira, 16 de março de 2011
pegou no lenço e amarrou-o em volta da cabeça duma forma provinciana. dançou depois. a saia curtíssima da mesa ao lado surpreendeu-me. o rosto pouco simpático e a vontade de ser tão competente agrava-se. desconfio sempre de gente com muita vontade de ser competente. sou o primeiro a desconfiar de mim próprio. e a ternura onde? tinha na mão uma fatia de pizza que comprei em promoção e na mesa da frente junto ao pilar estava sentada com ar de miúda devia ser da bandolete e um olhar não sei se incomodado talvez interrogado. a camisola descaída não cobria o ombro onde se acomodava a alça do soutien à vista desarmada. e o carinho? podia ter uma casca de banana seca no bolso das calças ou ter ouvido sermões na idade da pedra ter um réptil no colo ou podia tocar uma punheta atrás do maciço central. e daí? faz-me lembrar aquele poema que fala do que importa. não sei se o poema importa. por caminhos errados não há expectativas goradas há gente que se aparente não há quem se apresente.
terça-feira, 15 de março de 2011
quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011
domingo, 20 de fevereiro de 2011
a viagem de ida não atravessa prazeres deslocados não consome interesses descentralizados. a entrega da encomenda no destino faz-se pelo atalho mais longo ridicularizado na emenda arrastada de um soneto ambulante discreto e passivo nascido do átrio da modéstia atarracado púdico abafado de senso agrilhoado e amedrontado.
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
vazio à vista. ancorado a uma rocha de sedimentos lacrimejantes, quem não possui houvera de querer e não quis. a trovoada que se ouve não estala por cima de uma varanda inclinada para um abismo quotidiano. as pontas dos dedos estão fracas. as mãos deslizaram para fora do alcance do beiral. as forças sucumbiram ao cansaço de uma luta desigual. a colecção de destroços dará lugar ao vazio inofensivo.
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
e eis-me sentado à mesa, a trabalhar em volta do que me faz falta. ele tem uma voz bonita, bem colocada, grave e cuidada. a leitura antecede o que eu queria escrever. foi longa a viagem. a mesa é apeadeiro de paragem ocasional. o curso é por aqui e vem lá mais floresta para desbravar. o risco é perder o medo e não perder o enredo. soltem as deixas. lembra-te que o silêncio acaba sempre por me dar razão.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
estava hoje com um chapéu cinzento, talvez devido à chuva do dia. os dentes agora tão poucos evidenciam-se entre os lábios finos rodeados de uma barba grisalha rarefeita. o homem velho puxou da carteira e mostou-me a foto feita calendário. com um orgulho tremendo de quem já contou aquela história centenas de vezes e se mostra entusiasmado em repeti-la uma vez vez mais. estava atrasado mas permaneci. quando uma pessoa velha se dispõe a contar-me histórias eu páro sempre para a ouvir. não me interessam as futilidades dos novos. quero as que os velhos guardam religiosamente na memória cada vez menos disponível para armazenamentos insignificantes. ouvi da boca do próprio, as histórias que fazem a história da música do Porto. ouviria tudo de novo, com o maior prazer, ainda que as sucessões talvez já não fossem as mesmas. pararei mais vezes junto aos velhos, assim me queiram contar as histórias que guardam.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
domingo, 13 de fevereiro de 2011
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
evolução. mistério. rasgados auto-elogios. excitação prodigiosa. uma efervescência hormonal e um bréu desaparecido. a fuga desautorizada vergou-se às evidências não cabendo em si de ridicularizada. tanta rima não cai bem para um lado nem para os outros que dormem ao estilo de quem não existe. o êxtase do sossego não tira deveres aos dois lados de uma moeda sem faces nem costas voltadas ou por voltar. a saliva quente. o cheiro. a tua pele húmida o odor intenso da minha saliva. os lábios mexem para dizer coisas à língua.
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011
estive apenas a ouvir. a sala é fria e húmida. a pintura das paredes depressa escurece votando-as ao aspecto desgovernado que não combina com as vozes que pouco se ouvem. parei para ouvir. o parque de estacionamento gelado do betão cinzento e mudo só deixa atravessar os ruídos finos dos pneus entre pilares. sentado não parava quieto a tentar arranjar lugar no interior dos meus ouvidos para as palavras todas tão pesadas. a lutar contra o cabrão inútil que contracena dentro de mim pelo menos ouvir. a sala gelada ou o betão debaixo dos mortos como que minudências rídiculas de actos difíceis de encenar.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
lembro-me que as urtigas me faziam uma comichão tremenda nas pernas e as facas eram feitas lá em casa. outrora o cinto tinha marcado passo quando em falso e aquela cor pois canta que olhos assim mais ninguém. mas e os pilares começarem a ruir um a um. cada qual a querer fazer-se notar por via das dúvidas. e um de cada vez como se notavam. raios, quase já nem se notam. a cinza continua a cair. pura a fazer desaparecer um homem que eu amo.
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
entrou no estúdio e sentou-se. quis falar antes de tocar. falar é antigo. abrir-se é muito muito novo. a conversa leve em redor de episódios fortes. é toda a sinceridade. é toda a ausência de preconceitos. é toda a humildade de perpetuar os passos pequenos que sempre tiveram a importância maior. trouxe-me a música tocada e a música para tocar. e um entusiasmo muito bonito.
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
na mala, sem me aperceber, carregava um passado de cada. pousei-a na mesa e escolhi sem pensar mais do que um tempo insignificante. não sei o que lhes interessa. a eles nada que me pareça positivo. rever o filme poderia ser divertido para mim. deles já não espero nada. é o que for. coloquei o filme para mim mais do que para eles. haveria de se justificar a escolha no meio de tanta ironia camuflada. tenho agora a resposta se inventarem a pergunta.
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
pedi um número e o porquê. a senhora acedeu sem demora. deu-me um número e o facto. o dia mais feliz da vida. esperava eu um filho mas disse-me ela o casamento. muito convicta da universalidade dessa assumpção. assustou-me a convicção. comoveu-me a ingenuidade. a ingenuidade é um dos tais paus de dois bicos. ilude tanto. ingenuamente tão depressa somos felizes como infelizes.
terça-feira, 1 de fevereiro de 2011
segunda-feira, 31 de janeiro de 2011
sábado, 29 de janeiro de 2011
estendem tapetes, esticam escadas rolantes, inventam elevadores, prometem foguetões de ir à lua. há uns quantos ousados, outros tão puros caminhos silvestres, como leitos de rios na corrente das águas, uma força de sucção tramada. as pernas fincadas quanto tempo mais pisadas dos pontapés nas canelas. e ainda outros irrecusáveis.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
o homem caminhava numa via estreita sem margem para soluções admiráveis ou agravamentos inesperados. o chão descaracterizado não permitia ligações de sobrevivência e as paredes monocromáticas bloqueavam as observações especulativas. a isenção de ruído atirava a percepção para o filtro subterrâneo e a ausência de luz desgovernava a réstea de orientação possível.
quarta-feira, 26 de janeiro de 2011
a vida enrolada num papel por usar fica confusa e sem jeito de alinhar. a sorte vem de não se perder o norte aos passos cegos de uma vontade ingénua. os escaldões na água que ferve sem grande chama ficam marcados na pele desidratada seca como sei lá o quê. critérios não escolhem sobremesas como não fixam quem não quer surpresas.
terça-feira, 25 de janeiro de 2011
domingo, 23 de janeiro de 2011
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
passei o dia a correr sobre a tinta escorrida por abanão de uma mão misteriosa a vaguear numa tela mal impressa mal recortada mal polida que impressão. comecei por ouvir a estalada de mão cheia de razão e acompanhei contente o elevar das pestanas contra o adormecimento da clausura inaceitável. falta-me só o pé de trás que ficou preso na sarjeta da puberdade.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
o que te mente é a metafísica das coisas, não a suástica nem os suores emparelhados. concretamente, não chegam sequer pormenores para confirmar quem invente ou não seja de espécie ancestral. veio comigo um homem de figura imaginária que não empresta sonhos e ignora profecias. não são iguais as demoras porque os ombros não encolhem defesas nem escolhem certezas.
domingo, 16 de janeiro de 2011
sábado, 15 de janeiro de 2011
no momento em que abri a porta e entrei, deparamo-nos. sorriu-me e cumprimentou. a mulher pinta o cabelo de louro e ainda é nova para bordados. não sei se me olha de vez em quando ou se limita a passar o olhar adiante. o homem quis saber mais e eu não facilitei. permito-me não os aproximar e não tenho pena. sou de cera mas não me ponham de vela que um incêndio é fácil de inventar.
quinta-feira, 13 de janeiro de 2011
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