sábado, 26 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


uma única hora em que não me saia da frente a vida que está para a frente


domingo, 20 de fevereiro de 2011



a viagem de ida não atravessa prazeres deslocados não consome interesses descentralizados. a entrega da encomenda no destino faz-se pelo atalho mais longo ridicularizado na emenda arrastada de um soneto ambulante discreto e passivo nascido do átrio da modéstia atarracado púdico abafado de senso agrilhoado e amedrontado.


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011


a pele arrancada a custo põe a carne a nu. a pele se há-de regenerar. a pele há-de voltar para sentir.




quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011


vazio à vista. ancorado a uma rocha de sedimentos lacrimejantes, quem não possui houvera de querer e não quis. a trovoada que se ouve não estala por cima de uma varanda inclinada para um abismo quotidiano. as pontas dos dedos estão fracas. as mãos deslizaram para fora do alcance do beiral. as forças sucumbiram ao cansaço de uma luta desigual. a colecção de destroços dará lugar ao vazio inofensivo.




quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011


e eis-me sentado à mesa, a trabalhar em volta do que me faz falta. ele tem uma voz bonita, bem colocada, grave e cuidada. a leitura antecede o que eu queria escrever. foi longa a viagem. a mesa é apeadeiro de paragem ocasional. o curso é por aqui e vem lá mais floresta para desbravar. o risco é perder o medo e não perder o enredo. soltem as deixas. lembra-te que o silêncio acaba sempre por me dar razão.


terça-feira, 15 de fevereiro de 2011



estava hoje com um chapéu cinzento, talvez devido à chuva do dia. os dentes agora tão poucos evidenciam-se entre os lábios finos rodeados de uma barba grisalha rarefeita. o homem velho puxou da carteira e mostou-me a foto feita calendário. com um orgulho tremendo de quem já contou aquela história centenas de vezes e se mostra entusiasmado em repeti-la uma vez vez mais. estava atrasado mas permaneci. quando uma pessoa velha se dispõe a contar-me histórias eu páro sempre para a ouvir. não me interessam as futilidades dos novos. quero as que os velhos guardam religiosamente na memória cada vez menos disponível para armazenamentos insignificantes. ouvi da boca do próprio, as histórias que fazem a história da música do Porto. ouviria tudo de novo, com o maior prazer, ainda que as sucessões talvez já não fossem as mesmas. pararei mais vezes junto aos velhos, assim me queiram contar as histórias que guardam.



segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011


que há na morte de contraditório vem do mesmo sítio. a dor extrema traz um alívio. o fim da angústia. à custa da certeza da irreversibilidade.


domingo, 13 de fevereiro de 2011


de cada vez que se aproximavam já lhes adivinhava as palavras
é a vida
mas não
é a morte.


sábado, 12 de fevereiro de 2011

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011


evolução. mistério. rasgados auto-elogios. excitação prodigiosa. uma efervescência hormonal e um bréu desaparecido. a fuga desautorizada vergou-se às evidências não cabendo em si de ridicularizada. tanta rima não cai bem para um lado nem para os outros que dormem ao estilo de quem não existe. o êxtase do sossego não tira deveres aos dois lados de uma moeda sem faces nem costas voltadas ou por voltar. a saliva quente. o cheiro. a tua pele húmida o odor intenso da minha saliva. os lábios mexem para dizer coisas à língua.



quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011


estive apenas a ouvir. a sala é fria e húmida. a pintura das paredes depressa escurece votando-as ao aspecto desgovernado que não combina com as vozes que pouco se ouvem. parei para ouvir. o parque de estacionamento gelado do betão cinzento e mudo só deixa atravessar os ruídos finos dos pneus entre pilares. sentado não parava quieto a tentar arranjar lugar no interior dos meus ouvidos para as palavras todas tão pesadas. a lutar contra o cabrão inútil que contracena dentro de mim pelo menos ouvir. a sala gelada ou o betão debaixo dos mortos como que minudências rídiculas de actos difíceis de encenar.



terça-feira, 8 de fevereiro de 2011


lembro-me que as urtigas me faziam uma comichão tremenda nas pernas e as facas eram feitas lá em casa. outrora o cinto tinha marcado passo quando em falso e aquela cor pois canta que olhos assim mais ninguém. mas e os pilares começarem a ruir um a um. cada qual a querer fazer-se notar por via das dúvidas. e um de cada vez como se notavam. raios, quase já nem se notam. a cinza continua a cair. pura a fazer desaparecer um homem que eu amo.


segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011


entrou no estúdio e sentou-se. quis falar antes de tocar. falar é antigo. abrir-se é muito muito novo. a conversa leve em redor de episódios fortes. é toda a sinceridade. é toda a ausência de preconceitos. é toda a humildade de perpetuar os passos pequenos que sempre tiveram a importância maior. trouxe-me a música tocada e a música para tocar. e um entusiasmo muito bonito.


sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011


na mala, sem me aperceber, carregava um passado de cada. pousei-a na mesa e escolhi sem pensar mais do que um tempo insignificante. não sei o que lhes interessa. a eles nada que me pareça positivo. rever o filme poderia ser divertido para mim. deles já não espero nada. é o que for. coloquei o filme para mim mais do que para eles. haveria de se justificar a escolha no meio de tanta ironia camuflada. tenho agora a resposta se inventarem a pergunta.



quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011


em boa verdade não suporto esta expressão. a boa verdade não é diferente da má. não são diferentes por serem a mesma. em má verdade a boa verdade não passa de papel de embrulho de um presente que em bruto sabe ao mesmo.


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011


pedi um número e o porquê. a senhora acedeu sem demora. deu-me um número e o facto. o dia mais feliz da vida. esperava eu um filho mas disse-me ela o casamento. muito convicta da universalidade dessa assumpção. assustou-me a convicção. comoveu-me a ingenuidade. a ingenuidade é um dos tais paus de dois bicos. ilude tanto. ingenuamente tão depressa somos felizes como infelizes.



terça-feira, 1 de fevereiro de 2011


olha lá, onde vou dar com a cabeça na parede sem me magoar não é sítio para cantigas de chinelo à solta. antes ou dantes duvidava das curvas e não alinhava nos azeites. depois não cuidava das - não me lembro do nome - nem me lembrava das criaturas. isso era depois, agora não sei.